O tempero do Novo Mundo na mesa dos reis de Portugal
O tempero do Novo Mundo na mesa dos reis de Portugal
Houve um tempo, há muitos séculos atrás, em que os portos do mundo falavam o português. Goa, Macau, Luanda, Salvador, Rio de Janeiro movimentavam um comércio de mercadorias preciosas. Mas, nos porões dos navios não viajavam apenas mercadoria, viajavam hábitos e culturas, novos sabores e alimentos. Entre os séculos XIII e XVIII, a alimentação portuguesa em especial, mas também a europeia, transformou-se de maneira radical. Pimentas, amendoim, açúcar, gengibre, canela, chá, peru, tomate, batata – para ficarmos apenas na superfície – foram apresentados a reis, rainhas, príncipes e princesas portugueses e passaram ao longo dos séculos a fazer parte da alimentação da corte, seja no dia-a-dia, seja em banquetes e cerimônias oficiais.
Divulgação
A Mesa de Fernando I, imperador do Sacro Império Romano-Germânico (1558)
No livro recém-lançado em Portugal, A mesa dos reis (Círculo de Leitores, 478 páginas, 33,30 euros), essa história do envolvimento real com os alimentos no Novo Mundo fica mais clara. São 26 artigos escritos por especialistas, em que figuram diversos assuntos sobre os mais variados temas, dos padrões de consumo da aristocracia, passando pela importância das cerimônias reais de reafirmação do poder e pelos banquetes, jantares, merendas e refrescos nas quintas de recreio dos reis e nobres. A amarrar todos os artigos, está, ainda que muitas vezes não aparente, a história da transformação da cozinha com a chegada dos alimentos.
A escolha temporal também favorece essa leitura – foi entre os séculos XIII e XVIII que Portugal viu o apogeu o começo da queda de império que desbravou mares e descobriu continentes e povos. A importância política de Portugal na Europa nesse cenário era inegável – e as princesas de Lisboa casavam-se com reis da Espanha, da Inglaterra ou da França. A mesa dos reis portugueses era, portanto, lugar de exibição de riqueza, poder e influência. E isso se reflete na escolha dos temas abordados pelos pesquisadores do livro.
Entre os artigos publicados, destacam-se duas brasileiras com estudos presentes no livro. Ana Paula Megiani, professora de História Ibérica da Universidade de São Paulo, com “Entre comidas públicas e merendas íntimas: alimentação, cerimonial e etiqueta de mesa no tempo dos Filipes” e Leila Mezan Algranti, professora da Unicamp, com “Rituais e protocolos das mesas reais no século XVIII”. Em seu artigo, Ana Paula elenca uma série de documentos essenciais para se entender a mesa no Tempo dos Filipes, ou seja, a época em que Portugal esteve sob a tutela dos reis da Espanha, 1580-1630. São manuais de etiqueta, relações de despesas de jantares da corte, de mordomos, summilers e cozinheiros a serviço de nobres e reis da corte. Filipe II teve a seu dispor, ao longo de seu reinado de cinco décadas, nove cozinheiros, enquanto Filipe III teve seis e Filipe IV, oito cozinheiros, três dos quais herdados do pai.
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A pesquisadora mostra como o maior privilégio de cozinheiro na corte dos Filipes era publicar um livro de receitas com privilégio real, como o caso de Francisco Martínez Montiño e seu Arte de cocina, pastelaria, vizcocheria y conserveria, de 1763 (reeditado algumas vezes nas últimas décadas). Mostra também como os reis espanhóis comiam privadamente, ao contrário dos costumes franceses e portugueses.
Leila Mezan Algranti se debruça sobre o cerimonial das mesas reais do século XVIII, analisando livros como o Regimento do mordomo-mór. Leila mostra que a corte de Lisboa, desde o cozinheiro de d. Pedro II (de Portugal, em 1680), usava o serviço à francesa, ou seja, todos os pratos chegavam à mesa ao mesmo tempo e eram servidos para os convidados. Durante o banquete era o mestre d’autel quem coordenava o serviço e dava andamento à cerimônia.
Ainda que escrito sem as atualizações ortográficas (que Portugal ainda reluta em utilizar), o que deixa a leitura menos fluente, o livro apresenta para o leitor uma miríade de pesquisas e, tão importante quanto, possibilidades de pesquisas sobre história da alimentação. Com o baixo preço do euro, é um livro que vale a importação.
Serviço:
A mesa dos reis de Portugal: ofícios, consumos, cerimônias e representações (séculos XIII e XVIII)
Organização: Ana Isabel Buescu e David Felismino
Apresentação: Maria helena da Cruz Coelho
Número de páginas: 478
Edição: Círculo de Leitores, Portugal
Preço: 33,30 euros
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